Eu ainda sou do tempo…
Incrível como o
mundo está em constante mudança e a realidade das nossas crianças não tem nada
a ver com a nossa, assim como a nossa realidade enquanto pais, em quase nada se
compara à da geração anterior à nossa.
Eu ainda sou do
tempo, em que dormíamos e passávamos muito tempo em berços pintados com tinta à
base de chumbo, e não em camas montessorianas em forma de casa, ou em quartos
com ginásios de bebés, com decorações milionárias para impressionar no
Facebook.
As cómodas e os
armários não tinham qualquer tipo de proteção anti crianças e não nos caíam em
cima, nem ninguém mexia no armário dos detergentes!
Raspámos pelo chão milhões de vezes, poucos de nós não têm marcas nos joelhos para comprovar! Alcatrão ou terra batida, de bicicletas ou de carrinhos de rolamentos, todos nós fomos ao tapete, sem precisar de arnidol, consultas de urgência no Hospital privado, nem tão pouco um abraço ou de atenção especial. Quanto muito, a mãe ralhava pelas calças rotas nos joelhos e o Pai perguntava se tínhamos deixado a bicicleta limpa...
Cuidado com
alimentação não existia... Quanto muito havia cuidado em manter-nos
alimentados. Mas não era necessária uma frenética obsessão em ler rótulos,
porque a politica de publicidade enganosa na comida não existia! Os gelados
eram feitos com sumo de laranja em cuvettes de gelo, e os sumos eram de limão
com açúcar, e ai de quem se queixasse que estava azedo!
Eu ainda sou do
tempo, em que partilhávamos todo o tipo de comida bem como os respectivos recipientes entre autênticas manadas de crianças, sem pensar que iríamos apanhar herpes ou alguma doença contagiosa grave!
De manhã à noite,
não existiam pedagogias. Era brincar até mais não. Não era preciso aprender
cores, animas, ou letras. Isso ficava para a escola. Na rua, onde brincávamos,
não havia métodos. O método comum a todos era apenas 1: Ao escurecer, a tua mãe
vai à janela gritar por ti, e aí, é hora de correr para casa. Antes disso, nem
tão pouco sabiam de nós. Não havia telemóveis e não era preciso.
Programas de
família, não passavam por concertos do Panda ou da Xana toc-toc. Eram feitos ao
ar livre, em pic-nic's no campo ou nas míticas idas à praia de enormes
geleiras em punho, em que o almoço era uma simples sandes de atum e um iogurte
liquido, e não, a alface da sandes não era biológica!
Não havia Playstation nem Internet, e apenas 2 canais de TV por isso a supervisão não era
necessária! Havia horas para ver os desenhos (ao romper das 7 da manhã) porque à
hora de refeição era hora das notícias!
Jogávamos ao
elástico, saltávamos à corda e jogávamos à bola, até mesmo quando a bola estava
rota.
Tínhamos amigos,
muitos! Muitos mais do que agora. Encontrá-los era fácil: bastava sair à rua!
De vez em quando andávamos à bulha, mas os pais não intervinham. Tão depressa andávamos
à estalada como estávamos aos abraços sem ninguém ficar ofendido.
Íamos a pé para
onde queríamos ir. Ninguém nos levava à escola, nem a casa dos nossos amigos. Íamos
a pé, sozinhos, e quando íamos juntos com outros, aproveitávamos para parar na
papelaria para comprar bombinhas de carnaval, e cigarros de chocolate. Até
chegar ao destino ainda íamos tocando numas campainhas e fugíamos como se a
vida dependesse disso!
Eu ainda sou do
tempo em que um presente à seria, era uma caneta com várias cores, ou uma bota
botilde com contador de voltas!
Se nos portássemos
mal na escola, não eram os professores que tinham que se ver com os pais... Éramos nós! Sarilhos esperavam-nos em casa, porque a regra era: Não se desrespeita
os mais velhos!
Somos da geração
que viu nascer os CD's e acabar com o drama das fitas das cassetes enroladas
com uma caneta BIC.
Vimos nascer os
Simpsons, e mesmo sendo miúdos e não percebendo metade das piadas, adorávamos,
porque livrava-nos das notícias na hora de jantar.
Íamos para a cama
com o Vitinho.
Tínhamos mais
amigos que nunca, e menos dinheiro que agora. Eramos felizes. Muito felizes, e
saboreamos da melhor forma o que é ser criança!
Só espero que o
meu filho possa vir a ter a esta sensação de infância tão boa como a
minha!
Caramba, subscrevo tudo do início ao fim! Entrei agora em revival mode da minha infância, ai os maravilhosos anos 80. Ainda não sei como é que sobrevivemos aos anos 80, mas cá estamos para contar aos nosso filhos como éramos felizes quando éramos pequenos!
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