#4 - Mães há muitas – Mãe aos 16


Ok, ela não é blogger, mas tem sem dúvida uma história que dava um livro.
Ser mãe aos 16 não é prova para qualquer uma mas ela superou-a. Ela conseguiu, contra tudo o que lhe indicava que não conseguiria, ser mãe aos 16 e ser feliz! Ela não virou costas, e enfrentou a vida com tudo aquilo que lhe estava reservado. É um exemplo de coragem e acima de tudo de amor.

Amo esta miúda, por ser tão querida, por ser tão mãe, por ser tão corajosa!
Apresento-vos,  a Ângela:

  • ·         Quem é a Ângela, além de mãe da Maria Eduarda e da Margarida?

 Quem é a Ângela? Bem nunca pensei que fosse uma pergunta tão complexa, deveria ser simples não?!

Realmente é bastante difícil dizer quem sou além de mãe, pois fui mãe antes mesmo de me tornar mulher...

Eu costumo dizer que ser mãe fez-me tornar na mulher que sou hoje, quem o sou devo à Maria Eduarda, ela sim teve o trabalho de me ajudar a tornar uma mulher, ensinou-me oque é amor incondicional... Realmente qual é a miúda que tem o privilégio de conhecer um dos amores da sua vida aos 16 anos?

Sou uma pessoa como tantas outras, uma simples rapariga de 31 anos que apenas ambiciona ser feliz, e ver felizes os que a rodeiam.

Sim essa é a Ângela, uma pessoa simples que vê a luz no mais sombrio dos caminhos,
que acredita que a vida é um privilégio oferecido a cada um de nós, que merece ser respeitada e aproveitada com sorrisos genuínos, lágrimas sinceras e amor incondicional.

  •      Mãe aos 16, foi acidente?


Claro, mas foi o melhor dos dois presentes que a vida me ofereceu.
Não foi uma gravidez planeada, e lembro o dia que descobri que estava grávida como se fosse hoje...

Consigo recordar a música que ouvia enquanto esperava pelo resultado do teste, a roupa que vestia, o olhar da minha amiga quando me diz “não sei se te dou os parabéns ou se me agarro a ti a chorar”
Eu tinha 15 anos quando engravidei, o pai da Maria Eduarda era mais velho que eu, e nunca colocámos essa hipótese de acontecer… Aliás eu comecei a minha vida sexual e 2 meses depois descubro que estou gravida... Afinal, no dia 23 de Março de 2001 descobri que a vida me ofereceu a maior dádiva que algum dia poderia sonhar.

  • ·         Como é para uma criança de 16 anos dizer à mãe que vai ser mãe?

Bem, talvez seja melhor contar a história desde início. Quando descobri que estava grávida apenas mandei um SMS ao pai da Maria Eduarda para me ligar.
Quando ele me ligou não tive coragem de dizer nada mais a não ser “Estou grávida”. Depois do choque inicial, ouço do outro lado “Ângela não te preocupes, sei como resolver”
Estamos a falar em 2001, o aborto na altura era ilegal no nosso país, mas era do conhecimento geral a existência de locais onde o aborto era realizado clandestinamente. Aquela frase fez-me durante os primeiros 15 minutos, apenas pensar na solução que seria ir a um local clandestino e fazer o que seria suposto e aceite pela sociedade.
Ia a caminho da escola com a minha amiga a dizer todas as desculpas que iria dar no dia em que iria a Setúbal “resolver”... até que, assim do nada, parei no meio da estrada, olho para a minha amiga com lágrimas nos olhos, agarro-me à barriga e digo “Eu tenho um filho aqui... Eu vou ser mãe” E a partir daquele exato momento, assim do nada, tomei a decisão mais feliz de toda a minha vida!
Bem eu nasci e fui criada numa pequena vila alentejana, um meio pequeno onde tudo e todos se metem na vida uns dos outros. Em que as aparências são tudo, e tudo é motivo de critica.
As críticas, o medo, a ilusão fez-me guardar segredo...Escondi a gravidez tanto quanto pude...
A miúda que ambicionava tirar pelo menos dois cursos superiores, que queria ser professora de matemática, ou enfermeira, ou engenheira informática...A miúda, que estudava e trabalhava para ajudar no negócio de família, a menina...aos olhos de todos eu era a menina... a menina estava grávida, já não seria mais a menina!
O meu plano era fugir de casa, aguardar o meu 16o aniversário e vir para Lisboa, para uma instituição de mães adolescentes... Nesta altura estava grávida de quase 28 semanas, e num meio pequeno como o meu os comentários eram mais que muitos, o meu corpo mudava, haviam rumores de algo se passar comigo, o pai da Maria Eduarda na altura pensava não ser verdade (eu fugia dele com receio de nem sei bem o quê) e até ele brincava com a situação, e a conversa espalhou-se até as minhas irmãs virem falar comigo e perguntarem diretamente... e eu responder que sim... Eu estou grávida!

Foram elas e os meus cunhados que contaram aos meus pais, nessa noite de 05 de Agosto. No dia seguinte, bem... Obviamente que foi complicado, mas cada um agiu o melhor que sabia.
Quando as pessoas se amam, eventualmente acabam por se magoar, mas eu hoje sei que cada um fez o melhor que sabia.

  • ·         Sentiste olhares e comentários desagradáveis quando estavas grávida?

Como referi anteriormente, morava num meio muito pequeno, onde as mentalidades eram mais pequenas ainda!
Eu aos 15 anos decidi ser mãe solteira, e sim não foi fácil a aceitação desta minha decisão.
A minha irmã mais velha, foi aquela que sempre foi o mais honesta comigo, foi quem se preocupou em perguntar sempre o que sentia, o que queria, e foi aquela que entre lágrimas me disse “já te estou a imaginar com um carrinho de bebé” e foi esta frase, seguido do melhor abraço que jamais senti, que me fez respirar de alívio, e pela primeira vez senti que tudo iria correr bem... Como correu!
Em termos familiares não foi... Fácil. Havia demasiadas expetativas para mim e para o meu futuro, que naquela altura, foram dissipadas com a ideia de eu ser mãe.
Nesta altura da minha vida, descobri que o amor existe sim, que as pessoas conseguem ser melhores do que aquilo que aparentam, e que por vezes o apoio vem de onde nós menos esperamos!
Quando decidi ser mãe, sempre julguei (erradamente) que seria mãe sozinha, mas não...ninguém consegue ser mãe solitária, e também eu não o fui!

  • ·         O que foi mais difícil de ser mãe aos 16? 

Tratar-me como mãe.
Involuntariamente eu não dizia “a minha filha” dizia “a minha Maria”, as mães falam na terceira pessoa, “olha para a mãe” e eu involuntariamente dizia “olha para mim”
Hoje sei isso, mas na altura nem reparava. Eu queria provar a tudo e todos que estavam enganados, que eu conseguia, e que seria a melhor mãe que alguma vez iriam conhecer!
A Maria Eduarda era o meu bem mais precioso, não deixava que ninguém lhe pegasse ao colo, pois o médico tinha-me dito que era mau ela ficar habituada ao colo, apenas eu lhe dava banho e mudava fraldas, não queria que me dissessem “tiveste a filha e agora sou eu que faço isto ou aquilo” as pessoas tinham que implorar para eu deixar fazer seja o que for!
Passei tanto tempo em que era apenas eu e ela, que foi difícil deixar alguém entrar no nosso mundo!

  •  Qual foi a melhor parte de ser mãe aos 16?
A melhor parte de ser mãe aos 16 está a ser agora!
Hoje sei que sou mãe de uma menina fantástica, mas ao mesmo tempo amiga dela! Tenho uma relação com a minha filha que nunca tive com a minha própria mãe!
Assusto-me de morte quando a Maria me liga e diz “Mãe agora preciso que desligues o botão de mãe” mas sei que apenas quer falar com a amiga Ângela. E é algo fantástico, saber que a minha filha pode contar comigo para tudo!
Afinal a minha adolescência não foi assim há tanto tempo... Consigo colocar-me no lugar dela com mais facilidade.

  • ·         A segunda gravidez e a segunda bebé, foi de facto diferente pela idade?
A gravidez da Margarida foi diferente em tudo! E não só pelo facto da idade. Foi uma gravidez planeada, e também muito desejada não só pela mãe!
Desde os primeiros instantes foi tornado público. Não houve segredos para ninguém. Foram 9 meses muito calmos em comparação à gravidez anterior! É claro que quando senti pela vez um pontapé da Margarida, eu já sabia o que era, mas desta vez pude gritar ao mundo, em vez de chorar com medo que estaria a crescer depressa demais!
Na segunda gravidez só queria que a barriga crescesse, na primeira... o que rezava para  que isso não acontecesse!
Engraçado, foram duas gravidezes tão distintas, mas ambas me tornaram tão feliz!!!
Também o pai da Margarida teve um papel ingrato, pagou em parte por lembranças e “traumas” do passado, mas soube lidar com isso e além de me ter ensinado a ser apenas mãe, permitiu-me ser frágil, permitiu-me a ter medos, permitiu-me ser uma simples mãe, com um pai ao lado!

  • ·         És mãe diferente para as tuas filhas sendo que as tiveste em contextos diferentes?
Sim, tenho plena noção disso. Era muito mais rígida e perfecionista com a Maria Eduarda, lá está a meu ver eu tinha que ser a mãe perfeita, tinha que mostrar a tudo e todos que eu conseguia.

Com a Margarida sou mais benevolente, mas também depressa isso passa e está o caldo entornado.
Mas acho que permito muito mais à Margarida ser criança do que permiti à Maria Eduarda.
Lamento por isso, por minha causa a minha filha mais velha cresceu demasiado rápido, mas apenas fiz o melhor que soube.
Sou muito protectora em relação à Maria, sempre o fui... a Maria é apenas minha, não tem um pai que a possa proteger ou mimar, então tento encontrar um equilíbrio para eu fazer os dois papeis


  • ·         Farias tudo novamente?
Sem mudar fosse o que fosse!!!

  • ·         Achas que sabes ser mãe?

E alguém o sabe? Todos os dias aprendo uma nova forma de lidar com uma ou outra situação, todos os dias peço desculpas por numa altura não ter tido a melhor reacção.

Acredito que ser mãe é mesmo isso, uma aprendizagem... E adoro aprender todos os dias!!!!!









Comentários

  1. Lindo relato, emocionou-me principalmente por conhecer a autora e amiga!
    É mesmo, sem dúvidas, uma mãezona!!
    O lado profissional sempre fica afetado quando decidimos nos transformar em "mães" e por isso torço muito para que a Ângela encontre o "seu" trabalho, que tenho a certeza, terá todo o seu empenho e dedicação.

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  2. E esta é a "minha" angie!!! ÈS, Foste e SEMPRE serás grande :) Ti amo louca e continua assim como és desde o instante que te conheci naquele quarto (ansiosas por resultados parvos), a chorares como uma louca com saudades da "tua maria" mas cheiinha de força para levar o mundo ás costas!!! MÃEZONA COMO TII AMOOOO

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  3. Tenho um enorme orgulho em ti minha querida. És uma SUPER MÃE, sempre o foste e sempre o serás. :)

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    1. Minha querida sabes que te adoro! Beijo enorme 💋❤️

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  4. Tenho um enorme orgulho em ti minha querida. És uma SUPER MÃE, sempre o foste e sempre o serás. :)

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  5. Tenho um enorme orgulho em ti minha querida. És uma SUPER MÃE, sempre o foste e sempre o serás. :)

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  6. 5⭐ adorei amor, és uma vencedora. Pra mim já ganhas-te .. que história bela e lúcida, mereces tudo de bom que a vida possa te dar. Beijinhos

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  7. (Continuao)...Amiga, talvez minha melhor amiga, deixa eu te contar...
    Não sei tudo sobre a vida, mas o que já vivi me fez ter a certeza, que temos coisas em comum.
    Sem contar as inúmeras vezes que eu provoquei discurssões só para ouvir ..ahahah ��. Sei que realizamos coisas difíceis e sonhamos sonhos quase impossíveis. Nos meus defeitos aprendi a ter ainda mais paciência, e foste tu quem me ensinou alguma coisa.
    Esta é a vida, não devemos ter medo de viver e se entregar a novas amizades, so vivendo é que veremos se valeu a pena ou não, e contigo valeu. Hoje amiga, vejo que em TI foi um acerto certeiro! Certamente hoje, eu não poderia suspirar de alegria e dizer que valeu a pena! És Grande mãe, Grande mulher... Grande amiga ❤��

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    1. Querido Sérgio tu és um doce, tentas esconder te atrás dessa mascara de mau feitio, mas és uma das melhores pessoas que tive o privilégio de conhecer! As tuas palavras significam muito para mim! Um beijo enorme, sabes que te adoro ❤️

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  8. Espetacular Chefona ... :) beijinho és grande princesa

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Minha querida Ângela... É interessante olhar para o passado e ver em resumos as coisas que foram desafios a ultrapassar. Vejo as tuas descrições com muita vontade e esforço lá dentro. Uma Mãe adolescente, jovem, afectada com a situação, mas determinada e consciente.
    As pessoas serão sempre pessoas e problemas com pessoas são sempre complexos.
    Conheço.te faz tempo e desde sempre a maturidade que advém deste " crescimento " está fundido à tua personalidade.
    És uma senhora, uma mulher integra e Mãe honrada.
    Adoro.te minha querida. Um beijo na testa***

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    1. Meu querido já vai para lá de uma década que nos conhecemos, e sempre tiveste o dom der ver para além do que mostrava! sabes que as tuas palavras significam muito para mim! Obrigada querido amigo, um beijo enorme <3

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  11. Estou aqui morta de chorar, que história mais linda! ❤❤

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