#8 Mães há muitas! – Nunca serás mãe

Ela é uma das minhas melhores amigas! Tem uma força incrível e uma vontade de viver inebriante! Como eu, é incansável na procura de tudo o que a faça feliz.
Com 20 anos, após anos de batalha, exames, cirurgias e dúvidas foi-lhe dado o diagnóstico final! Era impossível que um dia viesse a ser Mãe!
É um daqueles exemplos de quem se faz à vida, antes que a vida se faça a ela!
Contra todas as probabilidades, apresento-vos, a Sara:

*Quem é a Sara, além de Mãe da Sophia?
A Sara é uma pateta sonhadora, que não tem medo de largar tudo e ir atrás de um sonho. Que apanha um avião sem destino traçado e uma mala nos ombros. Que gosta de se perder. Que acorda às 4 horas da manhã para ir animar um amigo. Que é chata como tudo quando gosta de alguém. Teimosa, constante, feliz, positiva, trapalhona, sem meias medidas e sem parafusos... Sou a pessoa que te liga 15 vezes com medo que não estejas bem, que desaparece e 3 anos depois te abraça como se te tivesse visto ontem. Sou na verdade apenas uma pessoa estranha... Tenho a mania de ser feliz. 

*Muito nova disseram-te que nunca serias mãe, como foi receber essa notícia?
No início passei por negação. Achei que estavam errados... Não podia ser. Quando esgotei todos os exames, tratamentos e operações possíveis, quando a cada gota de esperança vinha mais um entrave, caiu-me o chão. Senti que tinha perdido um pedaço de mim. Que me tinham privado de algo que eu sempre desejei e sempre tomei como garantido. Fechei-me na casa de banho e chorei como nunca tinha chorado e nunca voltei a chorar. Chorei porque senti que mataram uma parte de mim que gritava, o meu instinto maternal. Tentei convencer-me que não queria ser mãe. Que não gostava de crianças e a minha vida seria melhor. Mais tarde, que era melhor assim, iria viajar, viver e gozar a vida. Um dia adoptaria uma criança. Não ia ter que ter medo do parto, não teria que passar por transformações do corpo, choro de bebés recém-nascidos...

*Como foi partilhar essa notícia com os teus?
Tornei-me fria. Depois de tantas vezes perguntarem quando pensava ter um filho, respondia que não estava nos planos, secamente, friamente. Não deixei ninguém entrar na minha bolha de dor. Quis sofrer sozinha. Não estava certa... Ninguém deve sofrer sozinho. Ninguém deve carregar o fardo sozinho. Criamos um muro inquebrável que nos separa emocionalmente. Não é bom... Quem passa por isto precisa chorar, espernear, perguntar porquê, revoltar-se e merece ter alguém para a abraçar, apoiar, não dizer nada, apenas estar lá.

*O facto de não poderes ser mãe afectou algum dos teus relacionamentos amorosos?
Não necessariamente. Tornou-me (ainda) mais fria emocionalmente. Se não acreditava no amor nessa altura, deixei de ver necessidade de aturar um homem a tempo inteiro. Se não teria uma família, um filho, porque tinha que aturar o filho de outra? Nunca passei pela situação de ter que explicar que não podia ter filhos senão ao meu futuro marido (sim... quem lê isto parece que sou uma mulher fria, amargurada com 9 gatos. Só tenho dois ok? Mais o noivo)

*Um dia, ficaste grávida! Foi um choque?
Foi. Lembro-me que o meu primeiro pensamento foi "Preciso de um cigarro e um shot" e logo a seguir "não posso! Porra, Estou grávida!"

*Qual foi a tua primeira reacção? Crescer a pensar que algo nunca vai acontecer, e um dia dares por ti grávida deve ser um choque imenso... 
Fiz o teste no trabalho por vergonha. Não queria que vissem o teste em casa e me perguntassem o porquê se todos sabiam, incluindo o Andy, que não podia ter filhos. Fiquei imenso tempo a olhar para as duas risquinhas rosa, num misto de pânico e emoção. Olhei para a barriga. Coloquei as mãos. Imaginei-a a crescer. Senti-me calma... de uma paz que só as grávidas conhecem.

*A quem foi a primeira pessoa que contaste?
Ao Andy! Liguei-lhe eram 17h30 (saia às 18) e pedi para vir ter comigo e irmos a pé para casa. Quando me viu ele sorriu. Disse que queria contar-lhe uma coisa. Ele parou-me e disse "Estás grávida!" e abraçou-me e chorámos e rimos.

*A Sophia é filha da sorte? Ou de um milagre?
A Sophia será sempre o meu pequeno milagre. A melhor parte de mim. O grande amor da minha vida. Não me pergunto o porquê de ter acontecido porque não me importa. Não fiz exames novamente, não preciso saber como, basta-me "porque sim".

*Arriscas tentar um segundo filho?
Não vou "tentar" ter outro. Se acontecer, acontece. Nada é impossível, apenas improvável. O resto o tempo dirá. 

*Enquanto há vida há esperança?
Enquanto houver esperança haverá vida. O pior erro que uma mulher a quem dizem que não pode, ou será difícil ter filhos é stressar. Não resolve nada ficar obcecado com algo, venha ou não a acontecer. Vai partir-nos mais. Ser feliz e confiar que a vida trará a nós o que tem que ser nosso. Seja através da nossa barriga ou através de burocracias de adopção, ou de qualquer outra maneira insólita. O importante é ser feliz. Só temos uma chance, uma vida, temos que percorrer este caminho. Agora cada um escolhe como quer percorrer.

*Achas que sabes ser mãe?

Acho que ninguém sabe se sabe ser mãe. Ser mãe é ter dúvidas todos os dias. É aprender a confiar no instinto. Conhecer um amor que assusta e é maravilhoso. Ser mãe é aprender que o melhor de nós não é nosso, não está no nosso corpo. Para mim, ser mãe é um mistério lindo, um poema com cheiro a flores e uma epopeia de aventuras hercúleas. Se sei ser mãe? Nunca saberei se sei. É um papel que nunca estará terminado.  




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