#6 Mães há muitas - A emigrante!

Se isto de ser mãe tem muitas coisas difíceis, imaginem então, passar por tudo isto com uma outra barreira! A  barreira da distância! Muitas de nós recorrem à família e amigos, e aquelas pessoas boas que nos rodeiam! Ela não! Ela arriscou tudo por amor, e foi para um país distante, longe da família, dos que conhecia e da língua que falava! Uma mulher de coragem com uma história de amor que dava uma novela!
Apresento-vos a Dulce:


*Quem é a Dulce, além de mãe do Rafael, do Daniel e do Diogo
- A Dulce é uma mulher muito simples e muito reservada. É uma mulher de sorriso difícil mas sincero, é amiga do seu amigo. É uma mulher que não sabe falar de si hahaha

*Antes de mais, o que te levou a saíres do teu país?! Aposto que não é uma decisão fácil?
É verdade, não foi nada fácil. Foi a  decisão mais difícil que já tive que tomar. Saí de Portugal por amor. Não pertenço ao grupo de portugueses que saíram de Portugal à procura de uma vida melhor. Não . Eu vim atrás de um grande amor. O futuro a Deus pertence mas eu decidi arriscar. Com dois filhos na altura e após um divórcio, surge na minha vida alguém que conheci quando tinha 22 anos e que a vida separou. Desse amor nasceu o Rafael, o principezinho da família, hoje com 18 meses. 

*Não falas bem a língua, sentiste-te desamparada na gravidez devido à barreira linguística?!
- Não falava nada de Alemão quando cá cheguei. Felizmente a maioria dos alemães percebe um pouco de inglês e foi o que me valeu. Não me senti desamparada mas foi um período difícil, muito diferente das outras duas gravidezes. Se por um lado já conheces o teu corpo e o que te espera, por outro já não tinha 20 anos e a nível físico custou mais. Aqui sinto que não há tanta amabilidade como em Portugal, as consultas é tudo a despachar e logo eu que gosto de perguntar tudo. Era nesse ponto que sentia a diferença. Não há nada como percebermos e sermos percebidos. No hospital agiam como se eu já soubesse tudo por ser o terceiro filho. O meu marido fala bem o alemão e intervém  quando é necessário. 

*É muito diferente a maternidade em Portugal e na Alemanha?
-Como não trabalho cá, não posso fazer a comparação a esse nível mas sei que o estado incentiva muito a maternidade. As licenças são maiores, os abonos são iguais para todas as crianças, não há escalões consoante o rendimento dos pais e temos uma bonificação no primeiro ano de vida do bebé. Aqui os bebés não vão para a creche com 5 ou 6 meses como em Portugal. O lugar dos filhos é com as mães e muitos ficam até aos 3 anos, idade que entram para o infantário. A diferença é que aqui os infantários não são depósitos de crianças. As crianças saiem relativamente cedo,por voltas das 14h, o que é optimo pra elas mas por outro lado torna difícil conciliar com uma carreira. Nesses casos tem que se optar pela extensão de horário, mas é a excepção, não a regra. 

*Achas que as mães são mais apoiadas em Portugal ou na Alemanha?!
-Sem dúvida que a Alemanha dá mais condições e incentivos à natalidade. Entrada na creche mais tarde, licença de maternidade alargada. Confesso que nem sei bem como é aqui a lei pois como não trabalho, essa questão nunca se colocou.

*Qual foi a principal dificuldade que sentiste por ser mãe num país distante?
*Qual foi a principal vantagem?
-A maior dificuldade é não ter ninguém com quem possa contar aqui. Como sabes, o Rafael nasceu com hipotiroidismo congénito e com alguns dias de vida teve que ser internado. Eu não tinha ninguém para cuidar do irmão pois o meu marido tinha que trabalhar e por isso o Daniel passava os dias comigo e com o irmão no internamento. Foi o pior mês da minha vida. Nestas alturas é que damos valor e percebemos a falta que a família nos faz. É muito complicado. Se uma das crianças adoece, tenho que levar sempre a outra. Não há programas a dois, são sempre a quatro ahaha. Não posso deixá-los um pouquinho com alguém para ir fazer alguma coisa. Onde eu vou, eles vão. Onde eu estou, eles estão. Sou mãe a tempo inteiro, literalmente ahaha. 
Sinceramente não vejo vantagens por ser mãe aqui. Fui duas vezes mãe em Portugal e nunca lhes faltou nada. Aqui se não tiveres seguro de saúde, não tens acesso aos cuidados médicos e nisso o nosso Portugal bate muitos países, toda a gente tem direito à saúde em Portugal.

*Vais ensinar o teu filho como bilingue?
-Sim, o Rafael irá saber as duas línguas mas em casa só se fala português. É, e será sempre, a minha língua mãe. Tem tempo de aprender na creche e na escola, à semelhança do mano que chegou cá com 6 anos e já domina bem o alemão. 

* Se pudesses, voltavas? 
-Esta é simples, se eu pudesse voltava já hoje. Parte de mim está em Portugal, tenho aí duas das pessoas que mais amo neste mundo: a minha mãe e o meu filhote mais velho. Nada é mais difícil do que estar afastada de um filho. É uma dor dilacerante, a vida torna-se agridoce. Nunca estou completa nem completamente feliz. Choro muito de saudades. A saudade, a tal palavra que não tem tradução nas outras línguas, dói demais. Às vezes costumo dizer que eu não vivo, sobrevivo. Já me disseram: “Mas agora tens o Rafael”. Sim, tenho o Rafael mas um filho não substitui outro, nunca! 


*Achas que sabes ser mãe? 
-Filipa, eu nasci para ser mãe. Foi um sonho que me acompanhou desde sempre. Adoro ser mãe mas não é de todo uma tarefa fácil. Se eu sei ser mãe? Todos os dias se aprende um bocadinho mais. Um trabalho a tempo inteiro cuja única remuneração são os sorrisos, abraços e beijinhos cheios de baba. Acho que sei ser mãe e sei que sou a melhor mãe que sei ser!








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