#1 Eu, mãe – “Porquê a mim? Eu quero tanto este bebé! Eu sou boa pessoa!”
Sou a Carla, tenho 34 anos e sou mãe de duas
meninas! Uma no céu, uma nos meus braços, ambas no coração!
Dia 28 Janeiro 2014, com 22 semanas de
gestação fui fazer a ecografia morfológica e saber o sexo do meu bebé! Estava
feliz…Já tinha comprado produtos higiene, algumas roupas, uns bonecos… O nome
estava em análise e a hipótese muito forte seria Camila.
Durante a ecografia, a médica disse-me que as
coisas não estavam bem …
Com calma, traçou-me a verdade... A minha
bebé não estava bem e tinha várias mal formações (Cérebro e Coração, fenda
labial e do palato, 6 dedos em cada mão, rins dilatados…)
Com calma disseram-me que a minha filha era
portadora de Trissomia 13, incompatível com a Vida, e que poderia morrer ainda
no útero ou à nascença.
Com calma soube nesse momento que avançar com
a minha gravidez, não era uma hipótese…
Fiquei em choque, foi uma gravidez planeada e
tive todos os cuidados e pensava coisas como "Eu fiz tudo bem.. não comi gema de ovo.. não comi alface fora de casa…"
"Porquê a mim? Eu quero tanto este
bebé! Eu sou boa pessoa…"
Apoderou-se de mim um sentimento de injustiça
e medo do que viria a seguir!
Ia para o hospital, punham-me a dormir e tiravam a minha filha? Mas ela já
mexe na minha barriga…
Fiquei incrédula ao saber que ia ter um parto
“normal”… Aquilo não podia ser real, não me podia estar a acontecer…
Avançámos para a IMG (interrupção médica da
gravidez) um aborto na prática mas não gosto que usem esse termo pois eu queria
muito a minha filha! Fiz tudo como um parto normal. Tive consulta para
confirmarem diagnóstico… Não olhei! Era doloroso amá-la se a ia perder...
Seguiram-se muitos papéis para assinar, EU
tinha de pedir para não avançar com a minha gravidez!
Quiseram que fizesse um exame ao coração da
minha bebé, mas tinha de esperar 15 dias… Não queria acreditar que me pediam
para continuar a sentir a minha filha durante tanto tempo. Falta de vagas e
humanidade zero, valeu-me uma crise de histeria e encaminhamento para a
psicóloga no mesmo dia!
Os dias até ao meu internamento ( 7 fevereiro
) foram longos…
Rejeitei a minha barriga… não queria tocá-la…
dizia à minha filha "Não te mexas"… não queria sentir… não queria amar…
Acreditei que depois de resolver a parte
física tudo seguiria o seu rumo tentaria nova gravidez e ficaria bem… eu queria
esquecer!
Na véspera do dia internamento pedi desculpa
á minha filha por a matar, fiz amniocentese e foi dada anestesia no coração da
minha filha e pronto… estava morta só faltava sair do meu corpo…
Chegada ao quarto estavam mais 2 mulheres na
mesma situação que eu pensei que encontraria algum apoio. Até descobrir que
elas não eram como eu! Elas estavam a interromper a gravidez porque queriam! Tinham
bebês saudáveis… Senti tanta raiva e inveja… isolei-me! Elas dormiram toda a
noite sem qualquer peso consciência, eu vagueei toda a noite…Saíram do
internamento aliviadas a combinar um jantar, e eu só pensava como ia ser a
minha vida depois de tudo isto.
Chorei muito...As água rebentaram e disseram-me
"quando tiver vontade faça força" e foram embora! Vomitei, e a minha
filha nasceu, comigo e o pai sozinhos no quarto. Ficou morta entre as minhas pernas
e naquele momento gritei "tirem-na daqui , tirem!"
Não consegui vê-la era mais do que
conseguiria aguentar naquele momento, a minha filha era fonte de dor e não de
amor… Hoje teria feito diferente… teria visto… dado colo…Sei lá…
Após o parto achei que podia seguir em
frente, mas chegar a casa de colo vazio foi mais difícil do que pensava.
Senti inveja das grávidas, das mães, senti
vergonha de não ter conseguido gerar um bebé saudável! Sou mulher… era minha
função! Hibernei em casa não queria que me vissem e não queria ver pessoas
felizes, senti revolta e pena de mim própria. Eu não merecia…Senti-me sozinha
pois ninguém do meu mundo sabia o que eu estava a sentir e diziam coisas que me
magoavam como: "foi melhor assim" , "depois voltas a engravidar"
ou "não fales mais disso que é pior, esquece"
Eu sentia-me um trapo velho esquecido, um
corpo sem alma, o meu corpo recuperou da gravidez e do parto eu continuava
sentada a ver a vida dos outros acontecer e a minha estava em suspenso...
Encontrar um sítio onde havia mais mães como
eu foi o meu melhor suporte O "cantinho das perdas tardias" ! Encontrei
pessoas fantásticas, com elas eu podia sofrer, podia dizer o que sentia
realmente, senti apoio, senti esperança, vi finais felizes, vi muita coragem e
união.
Voltei ao trabalho 1 mês e meio depois da
minha filha nascer e foi o início da minha recuperação e o voltar á vida
normal, custou muito… a 1a semana chorei todos os dias… os meus olhos tinham
vontade própria. Tinha o sentimento de estar a viver uma vida errada e a certa
tinha-me sido roubada! Senti-me uma coitadinha e que nada de bom estava no meu
caminho… Não conseguia visualizar o meu final feliz!
Em Novembro, engravidei novamente e o senti
que a minha vida estava a ser retomada de onde foi interrompida… A minha filha
resgatou a minha essência… Tornou-me completa e em paz, o essencial para mim
chama-se Eva!
No futuro gostaria de a perda gestacional
fosse falada abertamente . Que as mães que perdem os seus bebês sejam tratadas
com respeito em especial pelos profissionais de saúde, a maioria dos
profissionais desvaloriza a dor e trata apenas da parte física, uma mãe não
esquece os seus filhos e quer falar deles!
Sou a Carla, tenho 34 anos e sou mãe de duas
meninas! Uma no céu, uma nos meus braços, ambas no coração…
Escrito por: Carla Ribeiro
Mamã felizmente nao sei a sua dor mas sei o que é amar um filho. A sua Camila sera sempre sua filha a sua menina. Como disse é mae de duas meninas e sera sempre. Um grande beijinho de coragem por transmitir em papel sentimentos que ninguem gostaria de os ter. Hoje chorei pela sua dor, e pela foto que voltou a sorrir com a sua Eva. Ana Mad
ResponderEliminarObrigada Sofia! A Carla hoje é uma mulher feliz com a sua Eva! Tal como expressa a fotografia :D
Eliminar