Esqueci-me de mim

Em boa verdade, não me esqueci… Permiti-me esquecer.
Sabia que era fácil…muito fácil.
Tinha em perfeita consciência de que após ser mãe seria muito normal esquecer-me de mim.

A mudança que um filho implica numa vida, faz com que seja muito provável que deixemos muitas coisas ficar para trás, como numa fila de espera. E nós, ficamos muitas (demasiadas) vezes no final dessa fila.

Tinha a perfeita noção de que me estava a deixar ficar para o final da fila. Fui ficando bem lá para trás, sempre consciente disso. Para mim, eu não era importante.

Fui-me esquecendo de me arranjar, de pintar o cabelo, ou tão pouco do “tratar bem”… limitei-me ao tão prático coque ou rabo-de-cavalo.

Esqueci-me de arranjar as unhas das mãos e dos pés, e de ir passando um creme aqui e ali.

Esqueci-me de ter cuidado com a alimentação, com o peso, com a forma física e o bem-estar.

Esqueci-me de comprar roupas para mim, ou sapatos, acessórios, tanto que deixei os furos das orelhas fechar…

Esqueci-me de ler um livro, ouvir uma música e de ver uma série.

Esqueci-me de ir ao cinema, a um restaurante ou a um bar apreciar uma cerveja fresca.

Esqueci-me do sabor do chocolate, do vinho e do mel.

Esqueci-me de me divertir.

Por momentos esqueci-me de mim, de cuidar de mim e de me colocar mais à frente na fila.

Não faz mal! Não tenham pena de mim… Sou feliz! Muito feliz! Durante um tempo, tudo o que precisava estava nele e não em mim.

Mas com o tempo tudo muda e voltei a “entrar no jogo.”

Agora, voltei a precisar de mim, e descobri que tenho muito para recuperar.
Pus uma pausa no meu ser, fi-lo de consciência e se voltasse atrás faria igual novamente, porque em momento algum fiquei menos feliz por não me colocar em primeiro lugar.

O primeiro lugar não voltou a ser meu… Acho que nunca mais será, mas para já, preciso de passar à frente alguns lugares na fila.

Inscrevi-me no ginásio, pintei e soltei o cabelo e arranjei as unhas.
Comprei roupas novas (e consegui não comprar nada para ele) e ando a namorar umas botas que vou acabar por ir buscar. 

Recomecei a ler, oiço música todos os dias, e ando a pôr em dia as séries.
Não fui ao cinema, mas fui há pouco tempo a um restaurante e a um bar, tudo numa só noite.

Provei chocolate, vinho e descobri que já nem gosto de mel.

Voltei a divertir-me e aos poucos a lembrar-me de tudo o que sou.

E permaneço feliz! Tão feliz como desejo a quem gosta de mim. Relembrei-me de mim, duma altura em que precisei esquecer-me. Foi de me esquecer que precisei, e agora é de me relembrar que preciso.


Mas no fundo, tudo o que importa, é ser feliz, e isso, nunca deixei de o ser! Porque às vezes, não faz mal esquecermos-nos um bocadinho, desde que voltemos a lembrar-nos.


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