O meu parto - tudo o que eu nunca quis

Antes de mais, as minhas desculpas, mas os horários cá em casa são definidos por um ser maior. A pequena cria.

Venho contar o meu parto que no final de contas acabou por ser tudo o que eu nunca quis. Não quero traumatizar ninguém, nem assustar futuras mães, mas esta é a mais pura das verdades.
Mais uma vez, a vida prova que nós não mandamos nada. Quando estamos preparadas para uma coisa, acontece outra... Por mais que possamos idealizar, mentalizar, preparar, sonhar... sei lá... as coisas às vezes acabam por correr da única forma que não nos passou pela cabeça.

6H da manhã e a mãe acorda com umas dores fortes tipo cólicas no fundo da barriga...
"Quem manda seres gulosa" - pensei eu ainda a visualizar os caracóis e o gelado da noite anterior.
Nem 5 minutos depois... aí está ela outra vez! "Mau!..." Mas esta segunda veio para ficar... a partir daqui, a mãe levanta-se e começa a andar de um lado para o outro a tentar perceber se seriam contrações ou não. A "moinha" era constante, e a cada 3/4 minutos intensificava-se. Vamos ligar à obstetra.
"Isso são contrações querida, vá com calma para o Hospital e eu já lá vou ter."
Acordamos o pai, e lá vamos nós para o Hospital de Vila Franca de Xira (Não, não é o meu hospital de residência) naquela que pareceu ser uma viagem interminável.
Quando chegámos a dor das contrações era mesmo mesmo muito intensa, e quase constante. Somos observados por uma enfermeira que diz "Estas contrações estão seguidinhas, e já tem 4 dedos de dilatação. Em principio já pode tomar a epidural. Parabéns mamã, o seu bebé vai nascer."

"Ok, calma! Respira fundo... Ele vai nascer... O parto espontâneo que querias, e pelos  vistos a coisa está a ser rápida... Não tarda nada tens ele no teu colo!"

Vamos para a Sala de partos, com o Sr. Pai da Criança... Dão-me uma daquelas batas hospitalares que não ficou vestida nem 5 minutos. As contrações eram tão fortes que eu só tinha calores... Fiquei assim, toda despida sentada numa maca agarrada ao Sr. Pai da Criança até chegar a bem dita epidural.

Ao fim de 10 minutos, estava a fazer efeito... que alivio... as dores passaram... e as contrações também...
Não vamos falar sobre o que são contrações. Ao longo desse dia, tive contrações completamente diferentes umas das outras... Doeu-me na barriga, nos rins, por todo o lado e em lado nenhum... Não achei que tivesse nada a ver nem com dor de dentes, nem com cólicas, nem com rins... Pelo menos as minhas contrações foram únicas.

Ficamos nisto... Quando as contrações se tornavam demasiado dolorosas, chamava a enfermeira para uma recarga de epidural. O Sr. Pai da Criança sempre ao meu lado na sala, em jejum, segurava-me na mão, falava comigo... fazia o que podia...
A minha obstetra apareceu de manhã ainda para ver se estava tudo bem. À hora de almoço, tínhamos a dilatação completa. Apareceu a minha obstetra novamente para me dizer que o seu turno tinha acabado e que ia embora... "Mas boa sorte!" - Disse ela
"O quê? Não é ela que vai fazer o parto?!"  (Não culpo nem desculpo... foi o que teve que ser...)
O tempo passou rápido e quando demos conta eram 18H.
Do nada, entra um batalhão de pessoas pela sala a dentro e aqui é que tudo se tornou assustador.
Entram médicos e enfermeiros... Alguém grita "Chamem um pediatra!" e o obstetra diz-me: "Vá, vamos lá... Vai ter que nascer agora!"

Começam a desmontar a maca onde eu estava e a prepará-la para o parto. Atiram para cima duma mesa um monte de instrumentos cirúrgicos que incluíam várias tesouras e a estupida da ventosa. Começam a vestir batas e a colocar máscaras e a sala calma em que estávamos até agora tornou-se numa azáfama assustadora... assim de repente!
Quando dei conta, tinha duas enfermeiras (uma de cada lado) em cima de escadotes, completamente debruçadas a fazer força em cima da minha barriga... e gritavam comigo "Faça força!"
Eu sentia os pés da cria, bem no cimo da minha barriga a fazer força também!
O obstetra falava comigo mas eu não percebia nada do que ele dizia (O contra de médicos estrangeiros). O Sr.Pai da Criança, assistia a tudo, um pouco afastado, porque não tinha como se aproximar, completamente pálido e com um ar assustado.
Foi pouco tempo... Foram apenas alguns minutos, mas pareceu-me uma eternidade... Aquele parto calmo, sereno e com o seu tempo que eu sonhei tinha ido à vida. Estava agora numa sala cheia de gente, cheia de gritos, cheia de confusão, com o marido longe de mim e completamente assutada e desesperada com a dor provocada pelas enfermeiras que continuavam a pressionar a minha barriga!
A certa altura o obstetra diz: "Não vale a pena, temos que ir para cesariana!"
"Não! Não era nada disto que eu queria... Não queria nada... Falhei... Não consegui... Não...não..."
Muito rapidamente, sem tempo para ver novamente o Sr. Pai da criança, levaram-me para o bloco operatório, onde a confusão continuou... Mais metal a bater, muitas pessoas dum lado para o outro... Colocaram uns acessórios na maca e amarraram-me braços e pernas... Eu chorava... Chorei tanto como acho que nunca tinha chorado. A anestesista tentava acalmar-me. Dava-me festinhas na cara e dizia que ia ficar tudo bem... Mas não estava tudo bem... Não estava nada bem.
Pouco tempo depois, ouvi, e vi alguém passar com o que me pareceu ser o meu bebé. Perguntei se era ele, disseram-me que sim. "Mas ele não está a chorar!?!" - "Ele já chora, tenha calma."
Chorou... uns minutos depois, chorou. Trouxeram-no junto à minha cara enquanto os médicos ainda "trabalhavam" em mim. Dei-lhe dois beijos e levaram-no. Levaram-no para o pai. Fiquei ali pelo que me pareceu ser uma eternidade, a chorar...E assim nasceu o meu filho.
Numa sala fria, gelada, cheia de gente estranha, com a sua mãe sozinha, e a chorar como nunca...
Foi tudo muito rápido, mas para mim foi triste... Não "gozei" o seu nascimento... Não o tive logo no meu colo... estava sozinha... nunca quis estar sozinha... e chorei tanto...
Quando saí da sala, trouxeram-me filho e pai e a partir daquele minuto tudo começou a melhorar... Ele dormiu sossegadinho no meu colo, o pai ficou mais aliviado, e eu parei de chorar.
Já tinha passado. Como eu queria ou não, tinha acabado. Ele estava bem e já estava neste mundo. Achei-o lindo desde o primeiro minuto... E amei aquela primeira noite, em que eu ainda não me podia levantar devido à cesariana e que dormimos os dois agarradinhos corpo a corpo.
O meu filho tinha vindo ao mundo. Duma forma confusa, abrupta e caótica, mas estava finalmente no meu colo. Naquele que começámos a construir como o nosso sossego, a nossa paz, o nosso mundo.

O meu parto foi tudo o que eu nunca quis... Durante dois dias chorei e não consegui falar sobre isso... agora está a melhorar... O Sr. Pai da Criança? Ficou completamente traumatizado... e acho que eu também...

A cria... Demorou a chorar e não nasceu de parto normal, porque tinha o cordão umbilical à volta do pescoço o que o estava a impedir de "descer". Está bem, e não tem qualquer tipo de mazelas provocas pelo parto.
Agora estamos a conhecer-nos... Ou melhor, eu estou a conhecê-lo, porque ele a mim, conhece-me bem.

Comentários

  1. O meu bebe tb nasceu num ambiente caótico. Entre médicos, enfermeiros e estagiários, todos tinham q aparecer na hora H e eu estava bem e o bebê tb, não houve qq complicação! Acontece...

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