Desapareceu!
Desapareceu. E eu
procuro. Desapareceu muito do que tornou, a cada um de nós, aquilo que somos
agora.
Desapareceram as boas maneiras. Desapareceu o Bom dia, boa tarde, por favor e obrigada. Desapareceu um sorriso a um transeunte na rua. Desapareceu o “Olá” aos vizinhos, e os miúdos a fazer amizades com ouros miúdos a cada sitio que vão.
Desapareceu a
honestidade. O caderno onde o merceeiro assenta a conta. Desapareceu o fiado, e
o pedir ao filho para ir à vizinha pedir uma caneca de farinha para fritar as
pescadinhas de rabo na boca.
Desapareceram as
brincadeiras na rua, as corridas de carrinhos de rolamentos, os joelhos
esfolados, e as calças sempre rasgadas nos joelhos. Desapareceu a amizade da
troca “guelas”, ou cromos do “Tou”, ou trolls de cabelos coloridos. Assim como
desapareceram os blocos de folhas de cheiro, e as borrachas coleccionáveis.
Desapareceu o Pão
por Deus, e o tocar às campainhas e fugir.
Desapareceram os
cigarros de chocolate, as contas PEZ, os Conguitos e as peta-zetas. Desapareceram
as Bombocas, o Tulicreme, e as gemadas da avó!
Desapareceram as
férias passadas ora na casa dos avós, ora casa dos tios, ora com a vizinha e distribuídas
com quem podia ficar connosco aqueles longos 3 meses.
Desapareceram as
geleiras da praia, e as conchas escondidas nas malas para se levar para casa.
Desapareceram os
pic-nic’s, o jogo do Rei manda, a Sirumba e o Mata e as sestas à sombra do
castanheiro, na manta que picava tanto como as formigas. Desapareceram as
sandes de panados e as batatas fritas.
Desapareceu a
Mega Drive, o jogo do Tetris, e os Walkmans. Desapareceram as canetas Bic para
enrolar de novo as fitas das cassetes. Desapareceu o lima-limão e a bota
botilde. Desapareceu a emoção do telefone a tocar, porque um telefonema era
caro e se estavam a ligar é porque seria importante.
Desapareceu muito
daquilo que nos fez o que somos hoje. E se tudo isto desapareceu, o que será que
se faz nos dias que correm?!
(Imagem: Dailyhunt)
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