Compreender as crianças, mas compreender também as mães!

É sempre complicado decidir se intervimos ou não numa situação que não é nossa mas que nos está de alguma forma a incomodar.

Uma mãe e uma filha. Um supermercado cheio de gente. Um criança a ser criança e uma mãe a atingir o limite da paciência.
Foi este o cenário. Num corredor do continente, passei por uma mãe que desesperadamente tentava controlar a pequena em plena birra do demónio.

A mãe destilava desespero. As pessoas passavam, olhavam, julgavam com olhares e expressões, abanavam a cabeça e seguiam o seu caminho.

A mãe ameaçava: “Tu queres apanhar?!” – E isto chamou-me à atenção.

Já assumi várias vezes aqui a minha posição relativamente às palmadas e castigos. Não acho que sejam o fim do mundo, não condeno, não julgo, não os uso!

Aquela mãe estava a lutar contra uma birra épica, mas até que ponto isso nos dá o direito enquanto mães de batermos numa criança?! O meu marido também faz birras, será que lhe posso bater?!

Seria muito fácil, tal como tantas pessoas que passaram ali, seguir o meu caminho a abanar a cabeça em jeito de desaprovação e a sussurrar julgamentos.

Decidi intervir.

Mas ao contrário daquilo que podem estar já a pensar, não me dirigi à mãe. 

Dirigi-me à filha!

Eu não faço ideia a vida daquela mãe! Eu não faço ideia, dos comportamentos daquela filha! Eu não faço ideia, se a miúda estava a berrar há 1 minuto, ou 1 hora! Eu não faço ideia, se aquela mãe luta diariamente o melhor que sabe pela sua filha! Eu não faço ideia dos motivos do desespero da voz daquela mãe. Sei que ela estava aflita, e achei que podia dar uma mãozinha.

Dirigi-me à pequena, baixei-me ao nível dela (estava a espernear no chão) e perguntei-lhe quantos anos tinha.  Olhou surpreendida para mim, e logo ali acalmou um pouco os gritos, mas ainda assim não me passou cartão…

Disse-lhe que o seu vestido era muito bonito. Tão bonito que dava pena ela estar a esfrega-lo no chão e que ia ficar sujo. 

Continuou a não me responder, mas parou de gritar, levantou-se e começou a olhar para o seu vestido a ver se estava sujo.

Por fim perguntei-lhe porque estava tão chateada. Disse-me que a mãe não lhe queria comprar as bolachas que ela queria. Ao que a mãe respondeu de imediato que ela as tinha em casa.

“Estás a ver! Tens as bolachas em casa… Estás a sujar o teu vestido todo sem motivo nenhum. Eu acho que era mais giro ajudares a mãe a pôr as compras no carrinho. Podias fingir que já és crescida! ”

Não foi muito, mas foi o suficiente. Como sou uma estranha, meter conversa com ela foi o suficiente para a menina acalmar. A birra parou.

Olhei para a mãe, e disse-lhe: “Eles às vezes fazem-nos dizer coisas que não queremos…”
Respondeu com o olhar agradecido: “Sim, sem dúvida! Muito obrigada!”

Da mesma maneira que era fácil ignorar toda a situação, era também muito fácil julgar aquela mãe por estar a ser tão bruta. Mas afinal… Quem nunca?! 

Quem nunca perdeu a cabeça uma vez por outra?! Quem nunca disse algo que não quis?! Quem nunca se enervou à séria?!

Eu não sei que tipo de mãe ela é. Mas compreendi que estava numa posição difícil. Podia intervir e ralhar com ela por falar assim com a miúda, mas afinal, que raios sei eu sobre elas?! Nada!


Fiz o melhor que sabia. Compreendi a criança, mas compreendi também a mãe! Fiz o melhor que sabia… 


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